Os resultados das eleições presidenciais e do referendo constitucional no último domingo (20) na Moldávia – o país mais pobre da Europa, surgido da antiga União Soviética, incrustado entre a Romênia e a Ucrânia, com uma região, a Transnístria, que se declara independente, e cuja população se divide entre os que aspiram a se integrar à União Europeia e os que gostariam de continuar como estão ou até mesmo fazer parte da Rússia – deixaram, nesta segunda-feira, um sabor agridoce na principal promotora da convocação às urnas, a presidente Maia Sandu, que buscava um respaldo para sua aposta europeísta.
Conhecidos os resultados finais da apuração – que, como se esperava, deram uma virada ao serem computados os votos emitidos no exterior pelas centenas de milhares de moldavos que trabalham em países europeus, revertendo a tendência contrária ao governo que predominava nos sufrágios internos da república, mais identificados com a Rússia – Sandu obteve o maior número de apoio, 42,20%.
No entanto, embora tenha conquistado 16 pontos a mais que o segundo candidato, o ex-procurador-geral Aleksandr Stoianoglo, indicado pelo Partido Socialista próximo aos interesses de Moscou, com 26,16%, o resultado de Sandu não foi suficiente para ser reeleita, pois não atingiu o mínimo exigido de 50% mais um e, portanto, a presidência moldava terá que ser decidida em segundo turno, em 3 de novembro.
Sandu tampouco conseguiu um apoio esmagador para a entrada da Moldávia na União Europeia, mas o “Não” promovido por seus adversários não prevaleceu. Foi proposto aos moldavos responder à pergunta: “Você concorda em modificar a Constituição para que a Moldávia se unir à União Europeia?”. A iniciativa foi aprovada com apenas 50,29% dos votos depositados, frente a 49,71% de votos contrários.
Moldávia se mostra dividida
Essa mínima diferença a favor da posição do governo evidenciou que a sociedade moldava está dividida e que o desejo de se integrar à Europa não é unânime. Além disso, os institutos de pesquisa previam uma vantagem de mais de 30 pontos de vantagem para a iniciativa de Sandu. Devido a isso, a atual presidente acusou seus adversários – “grupos criminosos”, como os chamou – de interferirem “a partir de Moscou” na votação de domingo.
Assegurou que o controverso magnata Ilon Shor, refugiado na capital russa após ser acusado de fraude e roubos multimilionários, criou um esquema fraudulento para “comprar 300 mil votos” na Transnístria, Gagauzia e outras zonas pró-russas, supostamente com 15 milhões de dólares depositados em bancos russos, e que o Kremlin destinou “100 milhões de euros” para boicotar o referendo que incluía no preâmbulo da Carta Magna a aspiração dos moldavos de serem parte da União Europeia.
Eleição e referendo repercutem na Rússia
Na Rússia, o porta-voz da presidência russa, Dimitri Peskov, reagiu dizendo que os resultados das eleições presidenciais e do referendo na Moldávia “deixam muitas perguntas” e deu a entender que “houve anomalias durante a contagem de votos a favor da (presidente Maia) Sandu e da integração europeia”, além de que a oposição não teve permissão para participar em condições de igualdade na campanha eleitoral.
Para Peskov, “não seria ruim que ela (Sandu) explicasse o grande número de votos contra a política que pratica. Também são grupos criminosos? Ou ela considera que todos os cidadãos moldavos que não a apoiam estão associados a grupos criminosos?”.
Os seguidores de Aleksandr Stoianoglo, o segundo mais votado, se perguntam como foi possível reverter a tendência que, com cerca de 90% da apuração, indicava que a maioria dos eleitores era contra a integração europeia, mas a Comissão Eleitoral Central, principal autoridade no assunto, afirma que os votos vindos do exterior no último momento inclinaram a balança para o outro lado.
Independentemente de o segundo turno de 3 de novembro confirmar ou não a reeleição de Sandu, o futuro da Moldávia – segundo especialistas – será decidido nas cruciais eleições legislativas da próxima primavera.